quinta-feira, 26 de julho de 2012

Papos despretensiosos...

Flamengo 0 x 0 Portuguesa (26/7/2012)

Ir a jogo em final de mês requer ponderações profundas.
 
O ingresso está caro, muito caro; e em pleno dia 26, seja qual for o mês, o termo se torna aplicável a quantias que, lá pro dia 5 não pesariam tanto no bolso. No meu caso, alguém que já entrou com vontade no cheque especial por conta do Flamengo, tirar o pouco que resta (ou o que não tenho) para uma ida ao estádio é uma atitude merecedora de muita reflexão. Pra piorar, estava no meio de um trabalho, naquele pique, querendo terminar logo. Mas aí lembrei que são, no máximo, três jogos por mês em casa, e que o próximo jogo que poderia comparecer será no dia 19 de Agosto, no clássico contra o Vasco. Aí amigo, é muita saudade dessa atmosfera toda que motiva este humilde espaço. Camisa de 92 vestida (n°5, do Maestro Junior), dinheiro sacado e vamos nós.

No trem, diretão da Central, percebo um grupo de rubro-negros falando coisas do tipo: "onde saltar?"; "demora muito?"; "como é o engenhão?", etc; ou seja, turistas - e isto não necessariamente significa que morem fora da cidade. Mas era uma dupla de pai e filho curitibanos e uma família de Manaus, estes, pela 1ª vez vendo o Flamengo num estádio. Que tristeza. Neste estádio, nessas condições de torcida sem identificação com o clube e com esses jogadores. No entanto, é sempre bom saber que tem rubro-negro espalhado por este país.

Saindo do trem, deixei-os na Ala Sul e segui meu rumo em direção à Ala Leste. A fila para comprar ingresso estava grande e eu não estava munido com uma carteirinha, digamos, "digna", que daria a certeza do direito à meia-entrada. Não tinha grana para pagar o preço inteiro. Então, como quase sempre faço, segui para a torcida organizada a qual faço parte para tentar comprar lá. A minha relação com a T.O. é muito simples: já estive lá por acreditar nela; hoje não levo Fé no ideal, mas estou pelos amigos, os quais já passaram comigo muita coisa nessa vida de torcedor. Não se despreza uma história dessas assim. Chegando no responsável pelos ingressos, fui informado que a diretoria do clube, por motivos que não posso, hoje, escrever aqui, não nos vendeu. Mas, o presidente da torcida, pessoa de talento para administração absurdo, além de ser "fechamento", saiu correndo atrás de colegas com direito pleno à meia-entrada, cambistas, diretores do clube, dentre outros, a fim de tentar comprar ingressos para nos repassar.  Depois de muita correria, aos 19' do 1°T, entramos no estádio, pagando o preço da meia-entrada, sem ágio, e com certo conforto devido ao pequeníssimo público presente à partida - exatos 8 mil presentes.

Eu era um desses. Jogo do Flamengo com esta quantidade de gente, é sinal de que alguma coisa - na verdade, muita coisa - está errada; e o time é uma delas. Não vou nem perder tempo escrevendo sobre ele, porque não tem como analisar nada. Foi uma das piores peladas que já vi na minha vida. Assustadora. Talvez, o ponto alto da partida tenha sido o papo com os amigos no intervalo da partida, e o assunto predominante foi política.

Nessa época de eleições, seja pleito federal, municipal ou no próprio clube, os candidatos ligados ao Flamengo fazem ofertas às TOs em troca do apoio político. E toma-lhe especulação: "Fulano ofereceu tanto a Ciclano"; "Beltrano agora tem cargo dentro do clube"; e assim segue o papo, com a única certeza sendo a de que "tem caroço nesse angu". E, para quem, apesar da idade, não é iniciante no ramo, certos fatos deixam muito nítido o modo como a teia política vai sendo tecida. É organizada que não reclama da presidente; outra que, antes fechada com ela, de repente, rompe; etc. E pensar que em outros tempos protesto na Gávea era sinônimo de quebra-quebra e bomba. No nosso caso, estávamos discutindo sobre qual posição iremos tomar. Complicado. E a pelada segue... horrivelmente; impiedosamente.

O feioso 0x0 se consolida e, ao descer do estádio com nosso material - bandeiras, roupas, bateria, etc - percebo que hoje não teria a redentora carona para a Tijuca. Então, junto ao amigo mais "fechamento" que tenho nesse universo futebolístico, demos "um corre" para pegar o último trem. Subir aquela rampa correndo, depois de um dia inteiro, com o guarda botando pressão, é o máximo de emoção que o Flamengo me proporcionou hoje. Fui o último a entrar na estação.

Além do meu camarada, e de um segurança, no nosso vagão havia apenas mais uma pessoa. Um senhor, angolano, Mengão, gente da gente... seu Marlos. Conversa vai, conversa vem, chegamos no nosso destino com o assunto "especulação imobiliária". Esse cara, há mais de 10 anos aqui no Brasil, já morou em Santa Teresa, Engenho de Dentro e agora mora nos arredores ali da Estação da Leopoldina. Para quem não sabe, parte de Santa Teresa, e, principalmente, o Bairro de Fátima, eram grandes redutos de angolanos, a ponto de você encontrar, neste último, bancas vendendo cartões telefônicos "Angola Card" e agências de viagens com nomes do tipo "Brasil-Angola". Como o preço do aluguel subiu muito nos últimos dois anos, eles sumiram dessa região.

É... não é só do estádio que uma parcela específica da população está sumindo...

3 comentários:

  1. Excelente! Tu sabe que eu sou Botafogo, mas aprecio a boa resenha!

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  2. o bom, é que quando acabo de ler,sinto aquela vontade louca de ser uma torcedora apaixonada que vai pro estádio com amigos "fechamentos"; sinto, de verdade, a emoção da torcida. graças as suas crônicas, e olha que só foram graças a essas duas, desmarginalizei os torcedores que vão para o estádio. tô achando fodástico!

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  3. Amigos, no que me foi entendido, A Vida é compartilhar.

    Abraços!!!

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