quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Uma torcida com um time

Flamengo 2 x 1 Atlético Mineiro (26/9/2012)

O Engenho de Dentro, talvez, pela primeira vez, recebeu o time titular do Flamengo sem desfalques.

Oficialmente, fomos 39.060(+11) presentes, dos quais, 34.116 pagaram pelo ingresso com preço médio de R$15,60, gerando uma renda de R$532.060 para os cofres Rubro-Negros. Recorde de público e renda do Flamengo no ano.

Tudo começou uma semana antes, quando recebemos a notícia de que a diretoria do clube, motivada pelo desespero que é rondar a zona do rebaixamento - e/ou seria por motivos eleitoreiros, buscando ganhar a simpatia da nossa maioria que, normalmente, devido ao valor dos ingressos, não pode ir ao estádio? - resolveu reduzir o valor dos ingressos pela metade. Soma-se a isso o fato de o Atlético Mineiro, além de rival histórico, ter em seu elenco Ronaldinho Gaúcho, jogador que, por incompetência da diretoria,  machucou-nos com vontade. 

Na segunda-feira que precedeu a partida, fomos ao Tijuca Tênis Clube garantir nossos ingressos e, ainda na fila, sentimos que este jogo seria especial. Fila grande formada por garis; executivos; estudantes de escolas públicas e particulares; dentre outros. Nós, Rubro-negros de todos os tipos, os quais unidos, formamos a sumida Nação, comemorávamos o "perrengue" da fila, "problema-privilégio" nosso.

Na quarta-feira, chegando à Central do Brasil, parecia que voltávamos no tempo: nossos trens lotados de alegria, com aquela felicidade no olhar que é típica daqueles para os quais o clube tem um significado maior. E, ao saltarmos na estação do estádio, a redenção: invadimos e cantamos com intensidade nossos hinos, dos atemporais aos da moda. Olhando para a ala sul do Engenhão, tomada por outros de nós, e ainda processando a atmosfera, nosso corações não tinham dúvidas... iríamos ganhar a partida.

Nós, a massa; tanta gente diferente junta... Ousamos dizer que pouquíssimos setores da sociedade carioca não eram conosco ali. E o mais impressionante é que, nesse momento, não existe esse negócio de "meu espaço", "público x privado"; somos apenas vários corpos se ajustando como podem, nos aturando por uma causa maior.

Depois da "resenha" com os amigos, e de sofrer, para não perder o costume, um pouquinho de truculência da PM, entramos no estádio e constatamos: somos grande e poderosa novamente, como há muito tempo não éramos. 

A partida é dramática, com dinâmica absurda e intensidade estonteante. Corremos como há muito tempo não víamos e, em dado momento, nos perguntamos: somos nós que empurramos o time ou somos estimulados por ele? Pra que resposta? O que importa de verdade, é que, de novo, vestidos de vermelho e preto, calçamos as chuteiras e pisamos o gramado com as nossas vozes, desconstruindo essa fronteira do mundo "real", nos mundos "imaginário" e "simbólico", que é o que nos interessa.

Corre! Vira! Domina! Amacia! Vai no Léo! Porra Love! LADRÃO!!! UHHHHHHH... pega o rebote...

... silêncio...               

... aquele  1 segundo de silêncio...

... o fôlego...
  
GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLL!!!                                              
POOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORRRRRRRRRRRRRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!

O abraço; o soco no ar; o tapa no amigo; a ligação do irmão que ficou em casa; os cantos de felicidade!!!
A certeza de que valeu a pena. 

ACABA JUIZ!!! FILHO DA PUTA, ACABA LOGO!!! 

AÊEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!!! PORRAAAAAA!!!

... cantamos muito...

A vitória, jogando bem, frente a um adversário forte com uma torcida apaixonadíssima que veio ao Rio em grande número numa quarta-feira, além de apontar um final de ano menos tenso, carimba a grande festa que foi matar a saudade de nós mesmos; lembrarmos acerca de "o que queremos ser". O descer das rampas se transformou num desfile de carnaval  - sem enredo vendido - e, nesse fuzuê, tivemos a certeza:

O Flamengo não é um time como uma torcida. O Flamengo é uma torcida com um time.

E estamos há muito tempo jogando desfalcados.